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segunda-feira, 12 de abril de 2010

a reclamação do personagem

O escritor é o criador do personagem. É pai, é mãe, é irmão, é família. E família não é coisa que a gente pode escolher. Se pudesse ter a chance, gostaria ter ter escolhido meu criador. Escolheria alguém mais criativo. Algum escritor que não sofresse tanto com o temível bloqueio criativo ou mesmo com a falta de vontade de escrever. Alguém intenso. Um viciado na arte da escrita.
Queria não ter descanso entre uma história e outra. Ser o mocinho um dia e já no seguinte, um vilão sem escrúpulos. Após tanta coisa ruim, iniciaria um romance proibido e depois algo mais tranquilo. Uma paixão ardente. Quem sabe uma ficção científica? Ah, tantas coisas que eu poderia ser...
Claro que meu escritor também me coloca em várias aventuras diferentes. O problema é que todas as minhas histórias duram pouco. Encontro a mulher dos meus sonhos e nada acontece. Um grande mistério se revela e fica por isso mesmo. Entro em uma aventura fantástica e tudo o que eu vejo pela frente são pilhas e pilhas de papéis sem nenhuma palavra escrita.
Fico parado, perdido em uma imensidão branca entre uma história e outra. E nunca, nunca sem um final. Algumas vezes fico confuso, como em um sonho. Começo com a bela donzela, viro criança, envelheço, ouço tiros e quando me dou conta, volto a estaca zero.
Mas como alguém já dizia, “você é o que você escreve”. Apesar dos pesares, eu não estaria melhor na mão de outra pessoa. Esse cara sou eu e eu sou esse cara. Meu primeiro final, eu sei, ainda está por vir. E logo ele virá. E depois...ah, depois ninguém me segura.

o escritor que não escrevia

Se tem uma coisa em que eu sou bom é escrever. Bem, na verdade não sou um escritor tão bom assim. É mais uma comparação com as outras coisas que eu faço. De tudo o que eu faço, bom ou ruim, poderia dizer que escrever é meu forte.
O grande problema, e a maior das ironias, é que eu sou um escritor que não escreve. Que coisa. Logo na única coisa em que eu sou bom, que me dá prazer, eu não consigo ser bom.
Um escritor que não escreve.
Bem, esse sou eu.
E quem mais sofre com isso é Antônio, meu personagem principal para todas as minhas histórias inacabadas. Meu único protagonista. Meu filho único.
Antônio é tudo o que eu quis e o que eu nunca quis ser. Meus sonhos, minhas frustrações, aventuras extraordinárias, histórias fantásticas, uma vida incrivelmente agitada.
Antônio sofre.
Antônio morre de rir. Vive paixões intensas. Sofre por amores impossíveis, inalcançáveis. Sonha com vidas que poderia ter vivido e imagina coisas que nunca acontecerão.
É herói. É bandido. É uma criança com uma imaginação fértil. Um velho desiludido. Um Antônio que prefere ser chamado de Tony.
Antônio é tudo! Tudo o que eu quiser que ele seja. Ele é tão bom que às vezes penso que ele não me merece. Talvez teria sorte melhor com outro escritor. Muito melhor estaria com uma escritora. Mas não, depois paro e percebo que ele está melhor comigo. Antônio faz parte de mim. E a partir de agora farei de tudo para que enfim ele possa ter um fim. Um fim que o levará a um novo começo de um novo fim, que possibilitará um outro começo para um outro fim, para mais um novo começo...

Sejam bem vindos. Esta é a vida de tony.